segunda-feira, 15 de agosto de 2011

O Fruto do Silêncio



Verdadeiramente “o silêncio engravida as palavras”. Pois quando damos a oportunidade a Deus e também a nós mesmos de responder no nosso silêncio, percebemos o quanto queremos ser os donos da verdade, enquanto nos escondemos de nós mesmos, da nossa própria realidade, porque não temos coragem de encarar a dura realidade de nossos limites e paixões.
O silêncio nos põe frente à nossa própria realidade e também diante do olhar perscrutante de Deus. Não há como esconder-se quando se silencia, não só a boca, mas, sobretudo, o coração. No barulho encontramos sempre justificativas e desculpas para o nosso medo de olhar para nós mesmos. Até mesmo a oração e a disciplina podem tornar-se apenas fuga daquilo que o silêncio pode me dizer da minha vida, meus relacionamentos (comigo mesmo, com Deus e com o outro). Obviamente, não se cresce na vida de oração. A ascese torna-se infecunda e cansativa; mais um fardo que libertação.
É uma arte estar atento e dialogar consigo mesmo, com seus desejos mais profundos, com suas fraquezas e paixões, por vezes reprimidas. No entanto, temos um aliado fundamental nesta caminhada de crescimento na vida espiritual: o amor de Deus. É o amor de Deus que me faz olhar para mim mesmo com correta estima, sem julgamentos e com tranquilidade. Quando nos sentimos profundamente amados por Deus, pouco ou nada nos importa o que os outros pensam de mim, pois, a consciência repousa na paz que brota da certeza de que somos aceitos por Deus exatamente como somos.
Por causa desta justa estima de si, somos capazes de acolher e aceitar nossos limites e pecados com serenidade, porque isso não diminui em nada a certeza do amor infinito de Deus por nós, mas esses mesmos limites transformam-se em base para a construção de uma espiritualidade sólida e realista, bem humana. Com isso, até nossos relacionamentos são enriquecidos. Porque aceitamos a nós mesmos, tornamo-nos capazes de aceitar e respeitar a particularidade do outro. As amizades são fortalecidas à medida que fortalecemos nosso relacionamento com Deus. O nosso coração se abre ao outro à medida que me abro a Deus e viceversa. Eu me abro a Deus à medida que amadureço nas minhas amizades.
O coração é educado na escola do amor. Ao doar-se, se abre também para receber o “dom” e “mistério do outro”. E isso não se dá nos cumes da santidade, mas no cotidiano das relações com aqueles que Deus nos dá a oportunidade de conviver. Preciso descer até o mais profundo de mim se quero subir até os cumes do céu. É na realidade de quem sou que Deus vai construindo seu santuário.
Assim, a virtude que sustenta o homem neste caminho é a humildade. Pois a humildade é o conhecimento de quem verdadeiramente sou: minhas potencialidades e limitações. É não ser o centro da existência própria nem da de qualquer outro. É caminhar aprendendo com o outro e contribuindo também para que o outro cresça, com a certeza de sempre estar debaixo do olhar de Deus, que me ama exatamente como sou. É não ter a pretensão de possuir a verdade, mas estar aberto a compreendê-la em todas as circunstâncias, onde quer que ela se apresente à alma.