domingo, 26 de junho de 2011

O cristão é co-criador

Neste ano de 2011, a Campanha da Fraternidade abordou o tema: Fraternidade e a vida no planeta; e o lema: A criação geme em dores de parto (Rm 8,22). E este tema não é algo a ser refletido apenas no tempo da Quaresma. Podemos pensar que falar hoje de preservação ambiental pode ser apenas um modismo, no entanto, é mais do que nunca uma urgência do nosso tempo. A cada dia vamos acompanhando inertes a degradação do nosso planeta, como se não fôssemos responsáveis, ou não nos importasse o que se passa ao nosso redor. Na Carta Encíclica Spe Salvi, o papa Bento XVI afirma: “Se a Carta aos Hebreus diz que os cristãos não têm aqui neste mundo uma morada permanente, mas procuram a futura (cf. Hb 11,13-14; Fl 3,20), isto não significa de modo algum adiar para uma perspectiva futura1.
Quando olhamos para o relato da criação no livro do Gênesis, podemos aferir a grande responsabilidade que Deus dá ao ser humano. O Homem é criatura, mas diferentemente de todas as outras, só a ele é dada a missão de cuidar da criação (cf. Gn 1,26; 2,15). Nós hoje claramente vemos o quanto a tecnologia tem avançado, mais e mais a nossa vida tem se tornado cômoda graças a novos produtos. Ao que nos parece, tudo tem ficado cada vez mais rápido e fácil, a informação é algo que nos chega quase que instantaneamente, através de diversas vias comunicativas, principalmente, na atualidade a internet.
Vislumbrado pela sua capacidade intelectiva, cada vez mais o homem vai deixando Deus de lado e se colocando no centro. Parece-nos que hoje a sociedade tem substituído o Deus verdadeiro por um ídolo: a ciência. Toda a esperança do ser humano moderno, ou seja, sua felicidade, objetivos... tudo está enraizado na sua própria capacidade. Paradoxalmente também observamos que aumenta a violência, a tristeza, as desigualdades e tantas mazelas na sociedade hodierna. Nunca se ouvira falar de tantos e tantos casos de depressão, suicídios. Os psicólogos estão com seus consultórios abarrotados e clinicas lotadas. Por que isso? Não deveria ser o contrário do que se vê? Claro que “se ao progresso técnico não corresponde um progresso na formação ética do homem interior (cf. Ef 3,16; 2Cor 4,16), então aquele não é um progresso, mas uma ameaça para o homem e para o mundo2.
            A razão é um grande dom de Deus ao homem, no entanto, se não for orientada pela fé, pode tornar-se escândalo (skândalon), no sentido literal da palavra, ou seja, pedra que faz tropeçar. Pois “a ciência pode contribuir muito para a humanização do mundo e dos povos. Mas pode também destruir o homem e o mundo, se não for orientada que se encontram fora dela3. A mesma capacidade que o homem tem de criar novas tecnologias para a melhoria da qualidade de vida pode ser, se não ordenada retamente, utilizada para alimentar a indústria armamentista e da guerra.



1.       Bento XVI, Carta Encíclica Spe Salvi, n. 4; p. 10.
2.       Ibid., n. 22, p. 37.
3.       Ibid., n. 25, p. 41.