Verdadeiramente “o silêncio engravida as palavras”. Pois quando damos a oportunidade a Deus e também a nós mesmos de responder no nosso silêncio, percebemos o quanto queremos ser os donos da verdade, enquanto nos escondemos de nós mesmos, da nossa própria realidade, porque não temos coragem de encarar a dura realidade de nossos limites e paixões.
O silêncio nos põe frente à nossa própria realidade e também diante do olhar perscrutante de Deus. Não há como esconder-se quando se silencia, não só a boca, mas, sobretudo, o coração. No barulho encontramos sempre justificativas e desculpas para o nosso medo de olhar para nós mesmos. Até mesmo a oração e a disciplina podem tornar-se apenas fuga daquilo que o silêncio pode me dizer da minha vida, meus relacionamentos (comigo mesmo, com Deus e com o outro). Obviamente, não se cresce na vida de oração. A ascese torna-se infecunda e cansativa; mais um fardo que libertação.
É uma arte estar atento e dialogar consigo mesmo, com seus desejos mais profundos, com suas fraquezas e paixões, por vezes reprimidas. No entanto, temos um aliado fundamental nesta caminhada de crescimento na vida espiritual: o amor de Deus. É o amor de Deus que me faz olhar para mim mesmo com correta estima, sem julgamentos e com tranquilidade. Quando nos sentimos profundamente amados por Deus, pouco ou nada nos importa o que os outros pensam de mim, pois, a consciência repousa na paz que brota da certeza de que somos aceitos por Deus exatamente como somos.


Assim, a virtude que sustenta o homem neste caminho é a humildade. Pois a humildade é o conhecimento de quem verdadeiramente sou: minhas potencialidades e limitações. É não ser o centro da existência própria nem da de qualquer outro. É caminhar aprendendo com o outro e contribuindo também para que o outro cresça, com a certeza de sempre estar debaixo do olhar de Deus, que me ama exatamente como sou. É não ter a pretensão de possuir a verdade, mas estar aberto a compreendê-la em todas as circunstâncias, onde quer que ela se apresente à alma.