domingo, 19 de fevereiro de 2012

Adolescente comove Itália ao oferecer sua vida pela Igreja e pelo o Papa.



Em outubro de 2006, Carlo Acutis tinha 15 anos de idade e sua vida se apagou por uma agressiva leucemia.O adolescente, oriundo de Milão, comoveu familiares e amigos ao oferecer todos os sofrimentos de sua enfermidade pela Igreja e pelo Papa.
Seu testemunho de fé, que em alguns anos poderia valer o início de um processo de beatificação, sacode nestes dias a Itália, com a publicação de sua biografia.
“Eucaristia. Minha rodovia para o céu. Biografia de Carlo Acutis” é o título do livro escrito por Nicola Gori, um dos articulistas de L’Osservatore Romano, e publicado pelas Edições São Paulo.
Segundo os editores, Carlo “era um adolescente de nosso tempo, como muitos outros. esforçava-se na escola, entre os amigos, era um grande apaixonado por computadores. Ao mesmo tempo era um grande amigo de Jesus Cristo, participava da Eucaristia diariamente e se confiava à Virgem Maria. Morto aos 15 anos por uma leucemia fulminante, ofereceu sua vida pelo Papa e pela Igreja. Sua vida suscitou profunda admiração em quem o conheceu. O livro nasce do desejo de contar a todos sua simples e incrível historia humana e profundamente cristã”.
“Meu filho sendo pequeno, e sobre tudo depois de sua Primeira Comunhão, nunca faltou à celebração cotidiana da Santa Missa e do Terço, seguidos de um momento de Adoração Eucarística”, recorda Antonia Acutis, mãe de Carlo.
“Com esta intensa vida espiritual, Carlo viveu plena e generosamente seus quinze anos, deixando em quem o conheceu um profundo traço. Era um moço especialista em computadores, lia textos de engenharia informática e deixava a todos estupefatos, mas este dom o colocava a serviço do voluntariado e o utilizava para ajudar seus amigos”, adiciona.
“Sua grande generosidade o fazia interessar-se em todos: os estrangeiros, os portadores de necessidades especiais, as crianças, os mendigos. Estar próximo a Carlo era esta perto de uma fonte de água fresca”, assegura sua mãe.
Antonia recorda claramente que pouco antes de morrer Carlo ofereceu seus sofrimentos pelo Papa e pela Igreja. Certamente o heroísmo com a qual confrontou sua enfermidade e sua morte convenceram a muitos que verdadeiramente era alguém especial. Quando o doutor que o acompanhava perguntava se sofria muito, Carlo respondeu: ‘Há gente que sofre muito mais que eu!”.
“Fama de santidade”
Francesca Consolini, postuladora para a causa dos Santos da Arquidiocese de Milão, acredita que no caso de Carlo há elementos que poderiam levar a abertura de um processo de beatificação, quando se fizerem cinco anos de sua morte, como o pede a Igreja.
“Sua fé, singular em uma pessoa tão jovem, era poda e segura, levava-o a ser sempre sincero consigo mesmo e com os outros. Manifestou uma extraordinária atenção para o próximo: era sensível aos problemas e as situações de seus amigos, os companheiros, as pessoas que viviam perto a ele e quem o encontrava dia a dia”, explicou Consolini.
Para a especialista, Carlo Acutis “tinha entendido o verdadeiro valor da vida como dom de Deus, como esforço, como resposta a dar ao Senhor Jesus dia a dia em simplicidade. Queria destacar que era um moço normal, alegre, sereno, sincero, voluntarioso, que amava a companhia, que gostava da amizade”.
Carlo “tinha compreendido o valor do encontro cotidiano com Jesus na Eucaristia, e era muito amado e procurado por seus companheiros e amigos por sua simpatia e vivacidade”, indicou.

“Depois de sua morte muitos sentiram a necessidade de escrever uma própria lembrança dele e outros comentaram que vão pedir sua intercessão em suas orações: isto fez com que sua figura seja vista com particular interesse” e em torno de sua lembrança está se desenvolvendo o que se chama “fama de santidade”, explicou.


Fonte: Blog Coração Inquieto.

“O teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus” (Rt 1,16)


Poucas pessoas, senão pouquíssimas, conhecem ou já ouviram falar do livro de Rute, nas Sagradas Escrituras. Trata-se da história de uma mulher estrangeira, da terra de Moab, território situado a leste do mar Morto e ao sul do rio Amon, que não fazia parte do povo de Israel, mas que era casada com o filho de Elimelec e Noemi (Rt 1,1-2).
Os dois filhos de Noemi morreram logo após a morte de Elimelec (Rt 1,5-6). Logo, Noemi e Rute retornaram à Judá. Orfa, a outra nora, retorna para Moab. Em meio à insistência de Noemi, Rute decide firmemente permanecer ao lado de sua sogra. Ainda muito amargurada, Noemi e Rute chegaram a Belém no começo da colheita da cevada.
Ao chegar, as mulheres se referem a Noemi: “Esta é Noemi?” Então ela responde: “Não me chameis de Noemi. Chamai-me de Mara (amarga),…” (Rt 1,20). Ao ouvir esta pergunta, a resposta de Noemi é nomear sua situação mudada mediante a mudança de seu próprio nome. Não mais “doçura” (Noemi), ela agora é Mara, porque o Senhor tornou sua vida “amarga”(v.21).
Mais a frente, Rute conhece Booz, parente de seu marido, do clã de Elimelec. Nesse conhecimento, o que prevalece não é somente a união de Rute e Booz, mas a Aliança de Deus feita com o homem, não só com o povo eleito, mas que se estende a todos aqueles que adoram o único Deus, o Senhor.
No segundo capítulo do livro de Rute, a personagem revela a Noemi que trabalhou com Booz (v. 19). Em seguida, a sogra revela que Booz é parente muito próximo e é um dos que tem sobre elas o direito de resgate1 (v.20b). No terceiro capítulo, que se refere ao encontro noturno de Booz e Rute numa eira, o judaíta aceita sem dificuldade assumir a responsabilidade e se dispõe a cumprir a obrigação legal, sobretudo, por se tratar de uma mulher perfeita (v.11), como é de conhecimento público.
Vale a pena conferir, em uma leitura proveitosa dos capítulos, notas e introduções do Livro de Rute, e comprovar um sentido mais profundo que o autor deseja que o leitor entenda. É verdadeiramente um convite para contemplar os desígnios de Deus, que envolvem personagens e circunstâncias nada convencionais para a realização do projeto divino.
Na Bíblia hebraica, a história de Rute se situa entre os Ketubîm, termo hebraico que significa escritos2. A Bíblia grega e a Bíblia latina colocam-no depois do livro dos Juízes, certamente por causa da indicação cronológica do autor, que está no primeiro versículo.
Devemos compreender que a data de composição desse livro é muito discutida entre os estudiosos, e depende de uma série de contextos. Poderia ser no período pré-exílico, por causa dos costumes jurídicos como o matrimônio levirático3, que refletiriam uma legislação anterior ao Deuteronômio.
É preciso ressaltar, consideravelmente, o tema teológico do universalismo, que trata da salvação para todos os povos e nações, que é defendido pelo autor. A temática da salvação de Deus, que se estende amplamente, fruto da ação de Deus que quer restaurar e aprofundar sua Aliança, indica-o, com coerência, pelo seu caráter temático e particularidades linguísticas, para depois dos acontecimentos do exílio na Babilônia4.
Booz é parente de Noemi, por parte do marido. É um homem de boa situação econômica, como agricultor e possui empregados. É desprovido de preconceitos étnicos e religiosos. É religioso e temente ao Senhor, cujo nome evoca e procura respeitar a Lei de maneira escrupulosa. Ele possui a condição de goel, em relação às duas viúvas. Seu papel na narração será o de resgatador, em conformidade com a lei judaica.
No quarto capítulo (4,1-12), ocorre a conclusão do casamento, na porta da cidade. Todo o ambiente possui as características jurídicas e transcorre em público, num lugar tradicional de resolução de pendências legais. Booz consegue o direito de goel. Propondo ao parente de Noemi, o direito de resgate na presença de dez anciãos da cidade, para servirem de testemunho, o primeiro goel não se dá conta de que o direito de resgate envolve a posse da terra, como também, o casamento com Rute, para cumprir outra obrigação legal e restaurar o nome do falecido sobre o terreno.
A segunda condição desagradou o parente de Noemi, pois estaria prejudicando os seus negócios. Daí a decisão de abrir mão do direito em favor de Booz. Por consequência, seguiu a confirmação dos anciãos e do povo, com bênçãos e invocações das mulheres importantes do passado, por quem a casa de Israel foi edificada. Rute é colocada em pé de igualdade com as matriarcas israelitas do passado, sem a identificação de estrangeira.
Falamos que Rute era natural de Moab, ou seja, uma estrangeira fora dos padrões referentes ao povo eleito do único Deus. Ser estrangeiro, para o Israelita do Antigo Testamento, era não ter aliança com Deus, não ter nenhum relacionamento, não seguir os mandamentos, a Lei por excelência. Rute se mostra solidária, a ponto de se dispor a se tornar judia e adorar o Senhor (1,16), abrindo mão da herança religiosa familiar, para estar junto da sogra. A solidariedade da moabita é radical e incondicional. O começo e o fim da narração apresentam Rute sem filhos, pela opção de ser solidária. Transparece, no texto bíblico, que a alegria de Rute era a alegria de sua sogra, que se dedicava para que a nora garantisse a descendência familiar.
A fidelidade permeia os relacionamentos entre os personagens e é fundamentada na firme convicção de que o Senhor será fiel a seu povo de aliança. Orfa e Rute permanecem fieis â sogra viúva. Ainda que Orfa tenha, eventualmente, retornado para Moab, ela esteve disposta a acompanhar Noemi até Judá. Booz expressa seu compromisso à fidelidade para com a aliança ao permitir que a viúva se junte aos demais em sua fazenda.
O fato de Rute ter se casado com um israelita revela o quanto Deus não nega seu plano de eleição para todos os povos. Percebe-se um Deus, solidário a todos os homens e mulheres atentos e de coração aberto. O autor poderia querer mostrar como seria as circunstâncias de Rute, em uma situação bastante difícil no meio social e religioso da época, com a morte do esposo. Com tal fatalidade, a ausência de filhos gerados significava que a pessoa falecida deixaria de existir em Israel, culminando em não ter deixado nenhuma descendência.
Em Rute, podemos perceber que o projeto divino não cessou após a morte de seu primeiro marido. A Salvação, a pertença ao único Deus acontece de forma constante, sem interrupções. A aliança com Deus nunca é desfeita e neste livro, que aos nossos olhos se mostra com uma mensagem simples, o próprio autor aprofunda o sentido de aliança com a humanidade inteira.
Uma aliança que gera a posteridade, um filho, Obed, que significa “o servo”. Nasce o filho de Booz e Rute, que coloca esta como antepassada do rei Davi. Ela mesma figura na genealogia, segundo o Evangelho de Mateus. Ressalta-se ainda mais o valor de uma estrangeira na ascendência de Jesus, como benevolência e fidelidade divinas: “…, Booz gerou Obed, de Rute, Obed gerou Jessé, Jessé geou o rei Davi”(Mt 1,5).
Um ponto importante do livro, que se encontra no prólogo e no epílogo, dentro do contexto étnico e religioso, é a convivência entre judaítas e moabitas, sem tensões nem preconceitos. Os casamentos acontecem, dispensando considerações de caráter religioso e cultural. O outro, o estrangeiro, o diferente, não constitui uma ameaça.
O plano de Deus parte do imprevisível, do absurdo das circunstâncias e revela a permanência do seu amor que recria e aprofunda a Aliança, a amizade perfeita. A mensagem deste livro quer nos ensinar a deixar Deus dar continuidade ao que Ele mesmo iniciou em nossa história e conformar nossas intenções e disposições, meio distorcidas pelos desgastes de nossa peregrinação, em seus atos de amor.
NOTAS:
1No pensamento jurídico antigo, o termo hebraico ga’al, traduzido por reivindicar os bens, indica o direito de resgatar uma propriedade (Lv 25, 23-24), de restabelecer um antigo liame de posse. O go’el é pois aquele que, por direito de parentesco, pode reivindicar os bens ou as pessoas de seus parentes mais próximos, quando esses bens ou essas pessoas foram alienados ou estão em perigo de sê-lo (Rt 2,20; 4,1-8).
2 Contém também os livros dos Salmos, Jó, Provérbios, Cântico dos cânticos, Eclesiastes, Lamentação, Ester, Daniel, Esdras, Neemias e 1 e 2 Crônicas.
3 O desígnio de Deus delineava uma união entre Rute e Booz, pelo fato de que, pela lei do levirato, o irmão de um homem morto, ou um parente mais próximo, tomasse e casasse com a viúva. Esta prática tornava possível a continuação do nome e da linhagem do homem morto em Israel, bem como permitia a retenção de sua propriedade dentro da família.
4 O Exílio na Babilônia, também chamado de cativeiro, infligido por Nabucondosor, Rei da Babilônia, aos habitantes de Judá e Jerusalém em 597 e 586 a.C.
*Noviço do Instituto Religioso Nova Jerusalém e graduado em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Ceará (UFC)