domingo, 19 de dezembro de 2010

Bíblia x Ciências??

A confrontação com a narração babilônica tinha como finalidade aprofundar a visão antropológica da Bíblia. Mas, para o leitor moderno, a leitura de Gn 1 levanta logo um problema. Os mais ingênuos talvez ainda tenham dificuldades a respeito dos seis dias da criação, mesmo entendidos com “períodos”. Outros acharão que a Bíblia está ultrapassada, já que a ciência moderna “demonstrou” que a criação não aconteceu como a Bíblia a descreveu, mas na forma duma longa evolução. É preciso, pois, nos deter um pouco sobre este problema.


O evolucionismo é uma teoria científica para explicar as origens das espécies vivas. Trata-se, pois, de uma hipótese, isto é de uma explicação possível para diversos fenômenos constatados pela ciência. Mas esta hipótese inicial vai sendo confirmada (ou infirmada) dia a dia por numerosas descobertas biológicas, arqueológicas e paleontológicas de grutas, cavernas e sítios pré-históricos, de tal maneira convergentes, que a hipótese, cada vez mais confirmada, acaba sendo aceita pacificamente, como hipótese de trabalho, por um crescente número de cientistas pelo mundo inteiro.

O grande protagonista do evolucionismo é Darwin, que, entre 1831 e 1836, viajou a bordo de um navio, colhendo informações e observações do mundo inteiro, especialmente do sul da África, das ilhas do Pacífico e da América do Sul. Hoje, já despojada do seu simplismo inicial, a teoria se torna cada vez mais aceita no mundo científico.

Uma maneira original, cristã, encontra-se em outro biologista, o jesuíta Teilhard de Chardin. Sabemos que as autoridades romanas da Igreja católica assustaram-se um pouco com as idéias dele no início; mas isto era mesmo para cumprir o costume bíblico de apedrejar os profetas antes de erigir-lhes um monumento (Mt 23, 29-30). No concílio Vaticano II, Teilhard foi citado com elogio. Hoje, embora muito discutida e controvertida, a teoria de Teilhard de Chardin pode ser aceita por qualquer cristão; parece que não haja nada nela que possa contradizer à Bíblia, até pelo contrário, existem diversos textos do Novo Testamento (1Cor 15, 20-28; Ef 1, 3-14.20-23; 4, 9-16; Cl 1, 15-20) que a teoria de Teilhard ajuda a entender melhor.

O mundo teria começado, bilhões de anos atrás, a partir de uma nebulosa ou uma explosão estelar, donde os gases estelares (plasma) foram enrolando-se, constituindo aos poucos nossas nebulosas, parafusando-se ao redor de um centro mais intenso (buraco negro), como um gigantesco caracol.

Nesta forma, as massas estelares enroladas encontram-se em estado de plasma, isto é: os átomos ainda não existem. Os prótons, elétrons e nêutrons, por causa do calor intenso andam soltos, ainda indiferenciados. Portanto, nesta forma, não existe ferro, nem manganês, nem ouro. As partículas soltas podem ainda se unir entre si de qualquer maneira imprevisível, para se tornar ouro, oxigênio o cobre, segundo as diversas combinações das partículas.

Chegamos assim à segunda etapa, a atomização. Cada partícula solta no espaço é possuidora de carga positiva negativa ou neutra (ausência de carga). As cargas do mesmo sinal se repelem e as cargas de sinal contrario se atraem. Assim vão construir diversos agrupamentos, sempre por pares de cargas positiva (próton +) e negativa (elétron -).

Em cada átomo existe sempre um número igual de prótons e de elétrons: cada próton tem que ter o seu elétron, como cada Homem tem que ter sua mulher para forma uma nova Unidade fortíssima e estável. Se um próton unir-se com um elétron, isso dará hidrogênio; se oito prótons unirem-se com oito elétrons, isso dará oxigênio; se setenta e nove prótons unirem-se com setenta e nove elétrons, isto dará ouro, e assim por diante. Os nêutrons também podem entrar na composição, girando ao redor do núcleo essencial próton e elétron, para constituir outro tipo de corpo.

Isto significa eu a união “casual” (Teilhard não nega que as associações acontecem quase ao acaso, mas nota que o resultado é uma obra altamente planejada que caminha para um ponto certo) de um certo número de prótons, elétrons e nêutrons vai dar origem a todos os corpos simples. Dissemos “casual”, porque a ciência ainda não achou leis de associações do plasma para o átomo. Para a ciência é um “acaso”. Mas, pela fé, sabemos que nada foi por “acaso”, tudo foi orientado por um fim: o Homem, e este Homem é apenas o primeiro esboço do Homem Novo, Cristo Ressuscitado, o Homem divinizado, ponto  de toda a obra da criação e da salvação (Cl 1, 15-20).

Na fé, a finalidade da criação está clara. Ela não aparece na composição mecânica da matéria, nem na energia, nem na massa, mas, no entanto, é um elemento “lateral” (no vocabulário de Teilhard: energia tangencial) que provoca toda a evolução até um ponto  perfeitamente determinado. A finalidade é uma realidade espiritual que a pesquisa científica não tem condições de revelar. São duas ordens de realidades distintas.

Sobre este último ponto, posso dar um exemplo bem elementar: se tenho na minha frente uma mesa, posso desmontá-la para saber como ela foi feita, peça por peça, mas esta análise não tem condições de me demonstrar se a mesa foi feita com amor ou com ódio, porque essas dimensões espirituais escapam à análise técnica da mesa. É outra categoria, é outra dimensão.

Mas aí estamos no mesmo caso do que com as provas da existência de Deus como última causa, segundo Tomás de Aquino. Tomás acreditava que, se voltasse para trás na cadeia das causas do universo, chegar-se-ia necessariamente a Deus como a última (causa final) ou a primeiro causa do universo. Hoje, ninguém mais aceita esta demonstração de Santo Tomás, porque Deus não entra na série das causas finitas como um elemento entre os outros. Deus não é um elemento na série. A série das causas naturais está completa. Não se pode mais, hoje, imaginar que falta um elo da corrente e que este elo desconhecido é Deus. Porque a ciência já descobriu todos os elos desconhecidos, e não se precisa mais da “hipótese Deus” para completar aquilo que a ciência não podia explicar. Portanto, a prova de Deus como “última causa” já não demonstra mais a existência de Deus, hoje.
Pierre Tehillar

Assim também Teilhard e Monod. Monod diz que toda a evolução se explica apenas como um “acaso”. Aceitar uma finalidade na evolução seria aceitar um elemento irracional, que escapa à análise científica. Para Teilhard, aceitar Deus como o ponto W que determina e atrai toda a evolução do Universo rumo a um poderoso “buraco negro” invisível aos nossos olhos, mas que determinaria todo a evolução do cosmos, coloca novamente Deus entre as causas finitas e incorre em perigo de panteísmo.

Mas deixemos aí esses pontos controvertidos e voltemos à evolução segundo Teilhard e outros cientistas.

Jacques Monod
Depois dessa atomização, segue-se a molecularização. Os diversos átomos combinam-se entre si para constituir as moléculas. Daí vão aparecer um número bem maior dos corpos diversos: água, ar, rochas diversas, areia, etc. Todos os minerais incluem-se nesta categoria.

Neste ponto, vai dar-se um pulo extraordinário. Se cada etapa analisada representa um novo estado da matéria, a passagem da matéria inanimada para a vida é o ponto mais decisivo, qualitativo, que introduz a um mundo novo. Os antigos falavam aqui dos seres “animados”, isto é, que tinham uma “alma”, princípio espiritual de vida. Os cientistas modernos não conseguiram ainda explicar a natureza exata da vida.

Certas moléculas “gigantes” são constituídas por milhares de átomos diferentes, numa estruturação cada vez mais complexa, é a “complexificação” progressiva de Telhiard. Neste momento, dá-se um passo, exteriormente imperceptível, mas de imenso alcance: a passagem da molécula gigante para a célula. Apareceu a vida. O sinal da vida é que a célula é capaz de se reproduzir por geração. A molécula gigante não o é. A célula assimila outras partículas do universo (para se alimentar), cresce e se multiplica. Isto é o passo da vida. Os cientistas estão procurando se certas composições químicas produzem sempre uma célula: será possível “fabricar vida”? Fica muito discutido hoje.

A célula representa a forma mais elementar de vida. A célula se produz da maneira seguinte: ela se parte pelo meio, dando origem as duas novas células idênticas, as quais se partem de novo, dando origem a novas células em progressão geométrica, a um ritmo espantoso. Daqui a pouco existem milhares e, em seguida, milhões, bilhões e bilhões de células do mesmo organismo.

Mas as células começam também a se especificar a se complexificar, segundo as necessidades da vida. Elas crescem em número no organismo, tendo cada qual sua função própria, cada vez mais especializada, a serviço do organismo (Ef 4, 15-16; 1Cor 12, 14-26).

Daí nasce a imensa árvore da vida, com os seus milhares de espécies diferentes, borbulhando pelo mundo inteiro, invadindo, renascendo, multiplicando-se cada vez mais. Parece que, aqui também, a vida nasceu ao acaso, aos empurrões: a vida é uma imensa e perpétua guerra, na qual os seres vão se devorando uns aos outros. As formas mais fortes vão progredindo e se impondo, enquanto que as formas menos adaptadas vão desaparecendo por si mesmo ( seleção “natural”). Algumas espécies vão crescendo e multiplicando, enquanto que outras linhas de evolução se fecham, sem possibilidade de ultrapassar certo ponto.

As formas mais elementares da vida são as bactérias e os protozoários. Crescendo a complexificação, vão aparecer organismos mais ricos e mais diferenciados, primeiramente os vegetais, aos quais falta ainda a sensibilidade, porque eles não têm sistema nervoso (embora a ciência atual descubra um certo grau de sensibilidade elementar até nas plantas). Na evolução, as plantas representam um “beco sem saída”, porque, por mais que se multipliquem as espécies vegetais, elas nunca conseguirão chegar até a um nível superior de vida, que só se daria pela aparição de células nervosas.

Outras formas superiores de vida serão dotadas de sistema nervoso. A célula nervosa é a maior célula, imensa e complexa, regendo todo o organismo do animal e dando-lhe a sua autonomia. Portanto o animal, ao contrário da planta, não ficará amarrado a um local ou a uma situação particular, mas se desloca para procurar condições melhores de vida.

O sistema nervoso pode ser rudimentar, como nos vermes ou moluscos. Nos insetos, o sistema nervoso pode atingir um alto grau de perfeição. As formigas, por exemplo, são os seres que mais se aproximam da inteligência, ou consciência de si. Mas o sistema nervoso, por ser composto de células gigantes, precisa de espaço. O sistema nervoso é ligado à massa do cérebro, dependendo diretamente do tamanho do crânio (“caixa cerebral”). Já que os insetos não são vertebrados, isto é, que não têm ossos, mas têm a casca do organismo do lado de fora, eles não têm condições de crescer muito em tamanho, sob pena de se tornarem perigosamente frágeis. Portanto, os insetos também representam uma linha barrada, um beco sem saída, incapaz de chegar até o ponto da inteligência, da consciência de si, que constitui a perfeita autonomia.

Os vertebrados têm a sua estrutura óssea por dentro, o que lhes permite crescer muito mais em tamanho. A vida começa no mar, com os peixes. Mas a vida vai invadir também a orla marítima com os anfíbios que começam, a sair do oceano primitivo. Deles vão sair as aves.

Mas a linha decisiva, na evolução, é a dos mamíferos, porque é neles, mais do que nos peixes e nas aves, que a caixa do crânio terá condições de crescer mais e se desenvolver.

Entre todas as espécies de mamíferos, é a mais fraca que vai conseguir superar as outras. Os símios, porque não têm nenhuma defesa natural e porque tampouco são velozes para escapar na corrida, tornar-se-ão trepadores por necessidade vital. Foi assim, trepando-se nas árvores para fugir dos seus inimigos, que os macacos perderão pouco a pouco a sua estrutura horizontal, para aproximar-se da posição vertical. As duas patas dianteiras, que já não servem para correr, mas para trepar e se alimentar, desenvolverão capacidades apreensivas para ajudar na escalada e na alimentação (frutas apanhadas nas árvores). Por este próprio fato, já não era mais necessário que os queixos fossem muitos compridos, como acontece nos outros mamíferos que precisam apanhar a sua alimentação no chão, já que as patas dianteiras estão especializadas para a corrida. O símio liberou as duas patas dianteiras e assim leva o alimento à boca com as mãos. Este por menor é decisivo. Pois o queixo se encurtou e, paralelamente, a caixa do crânio cresceu, ponto essencial para que possa aparecer um sistema nervoso autônomo, isto é, a consciência. Quando isto aconteceu, depois de milhões de anos de lenta evolução, já não era um animal levado cegamente por instintos incontroláveis, mas Homem inteligente, capaz de decidir por si mesmo e de assumir a responsabilidade da sua vida.

O despertar do homem foi muito vagaroso; demorou milhões de anos e está longe de seu termo ainda. Estamos apenas no início da tomada de consciência (conscientização, no sentido de Teilhard) da Humanidade. O Homem começou a descobrir que ele era diferente dos outros animais da floresta. Ele notou, pouco a pouco, que podia inventar coisas novas para se defender ou alimentar, usar o bastão, o fogo, trabalhar a pedra, etc., fazer progressos técnicos, que os outros animais não faziam de maneira alguma.

Quando o Homem começou a despertar e a entender a sua condição única no mundo, Deus começou a se revelar a ele, na medida em que tinha condições de entender (Gl 4, 1). Quando cresceu mais e inventou a escrita, Deus se revelou a ele pela Bíblia, até que, ultimamente, quando o Homem se tornou adolescente, Deus lhe deu o seu próprio Filho, nascido de uma Mulher, para revelar-lhe o seu destino definitivo (o novo Adão) e a sua dignidade de Filho de Deus (a ressurreição e a divinização do Homem na ressurreição do Senhor Jesus).



2. Evolução da Bíblia



Do ponto de vista cristão, nada há no evolucionismo assim entendido que contradiga ou seja incompatível com a Revolução judeu-cristã. A Bíblia não se interessa em explicar o Como da criação; ela não destrincha o mecanismo do universo, mas explica o sentido religioso da criação e a significação da criação para o Homem, assim como o lugar do Homem no universo. Para a Bíblia, a criação é o projeto de Deus supremo e todo-poderoso. Portanto, a criação é o não pode ser “acaso”, nem “absurda”, mas obra de amor, orientada por Deus para Homem, termo e convergência do universo. Os sete dias do Gênesis revelam toda a obra da criação convergindo e culminando na criação do Homem como no seu objetivo último.

Na Bíblia, Deus tomou barro para fazer o Homem. No evolucionismo, ele nasceu de outro ser vivo. A diferença é quase nula. É importante não se deixar levar pela imaginação: “Eu não sou filho de macaca, não!”. Isso é puramente sentimental. Você não é filho de macaca, você é filho de Deus, porque a macaca nunca na vida teria condições de dar à luz um homem! Só Deus pode.

Na perspectiva da evolução, quando a matéria passou do estado de plasma para o átomo, a diferença observável era quase nula. Nenhum cientista, - se tivesse havido naquela época – com os microscópios mais aperfeiçoados, teria tido condições de observar o fenômeno na sua origem, ainda muito menos suspeitar as suas conseqüências decisivas. No entanto, a diferença qualitativa representava uma nova criação. Era uma coisa inaudita e genericamente diferente: a matéria indiferenciada começava, dava o primeiro passo duma diferenciação e enriquecimento mútuo e fecundante. A matéria, uniforme e monótona na forma de plasma, começa a se diversificar e multiplicar num grande número de corpos especificamente distintos.

Quando as moléculas se organizaram para formar a primeira célula (ao “acaso”, ou porque uma força tangencial, tal qual um imã, os fazia se ajuntarem, eliminando sucessivamente as formas não viáveis, não sucedidas da associação, enquanto as viáveis, assustadoramente, se multiplicavam), ninguém poderia ter notado o fato. Mas a criação tinha dado um pulo para frente incomparavelmente maior do que aquele pulo do plasma para o átomo. Era uma nova criação, uma coisa imprevisível e qualitativamente diferente da matéria inanimada anterior.

Da mesma maneira, se aconteceu (é apenas uma hipótese científica bastante aceita) que uma macaca, um belo dia, deu à luz um Homem, aquela macaca, é claro que nunca notou a mínima diferença; muito menos do que a galinha que choca ovos de pata. O Homenzinho, por sua parte, achou a coisa mais natural do mundo ser criado e amamentado por aquela macaca carinhosa que lhe queria bem do seu jeito; porque nunca soube de outra coisa, como aquelas crianças da Índia que, segundo dizem, foram criadas por lobas, assim como Rômulo e Remo, os fundadores de Roma.

No entanto, havia acontecido uma coisa inteiramente nova e inesperada, uma criação nova, um mundo novo. Em termos qualitativos, existe uma diferença muito maior entre a macaca e o Homem, do que a macaca e o plasma primitivo, ou mesmo do que entre a macaca e o nada. Para Deus, tanto faz tomar um boneco de barro e soprar nele, ou fazer uma macaca dar à luz um Homem.

O pulo será maior ainda, quando duma Mulher nascerá o próprio Filho de Deus. Na hora em que aconteceu, ninguém soube nem percebeu (só Deus!). Exteriormente, ninguém podia notar a diferença , nem com raios X, ou instrumentos mais aperfeiçoados.

Assim também, ninguém – nem com os instrumentos mais sofisticados – poderia ter notado a diferença entre aquela macaca e o Homenzinho que nascera. Só Deus sabia. Mas a diferença entre aquela macaca e o Homenzinho que ele criava com carinho era muito maior do que a distância entre uma extremidade do Universo e a outra (bilhões de anos de luz!). Para passar do plasma até a macaca, isto custou bilhões de anos. Para passar da macaca até o Homem, foi um instante só; mas aquele instante percorreu uma distância muito maior do que aqueles bilhões de anos.

Conseqüentemente, não há nada, na teoria da evolução, assim apresentada (Teilhard de Chardin, por exemplo), que contradiga à Bíblia. O ponto de vista é diferente. A Bíblia reflete sobre o lugar do Homem no universo, sobre o domínio absoluto de Deus. Há um só Deus. O universo não é o resultado de uma desarmonia entre os deuses, nem é o fruto do “acaso”, mas o fruto de uma harmonia, de um planejamento organizado, do qual o Homem é o ponto de convergência (Cl 1, 15-20).

Teilhard vai mais longe ainda na linha da “evolução”. Extrapolando o campo da ciência, para entrar na perspectiva da fé. Ele vê Jesus ressuscitado como o termo “necessário” e lógico de toda a evolução vital. A matéria indiferenciada tendia – sem o saber – rumo à matéria organizada. Esta rumava, inconscientemente (porque não tinha “consciência”!), ao passo da Vida. A Vida, por sua vez, tendia, por um dinamismo interno misterioso, até o passo da consciência (Homem). A consciência, por sua vez, fica nas dores do parto, até que desemboque na eternidade divina, eternizada, perfeito, Consciência pura e não mais embaraçada pelas opacidades da carne. A ressurreição do Filho do homem representa, para Teilhard, o ponto  o ponto final e necessário de toda a evolução que começou com a passagem do plasma para o átomo. Portanto existe, na própria matéria, um dinamismo (uma “necessidade”) que a faz se superar continuamente. Como o dizia Agostinho: fizeste-nos para ti e a evolução não pára até que repouse em ti! Isto não é panteísmo, como foi censurado, porque não se trata de determinismo materialista, mas de um plano misterioso de Deus, que fez tudo convergir em Cristo ressuscitado (Ef 1, 3-14). Se este plano misterioso divino é ou não (e até que ponto) discernível para a ciência profana, é o problema contestado entre Teilhard e Monod.

A Bíblia confirma a intuição mais profundo de Teilhard. Não apenas Cl 1, 15-20, mais muitos outros textos: o Prólogo de São João, mostrando a Palavra de Deus, ativa desde os inícios da criação, desenvolvendo as suas virtualidades e as suas energias, até se manifestar plenamente o Filho Primogênito (Jo 1, 1-18). A Primeira Carta aos Coríntios, mostrando O Poder de Ressurreição de Jesus atingindo todas as camadas da criação, “até que Deus seja tudo em todos” (1Cor 15, 15-30). A Carta aos Romanos, afirmando que a criação inteira está nas dores do parto até a Revelação dos Filhos de Deus (Rm 8, 15-30). A Carta aos Gálatas, afirmando que o herdeiro deve crescer, juntamente com os elementos deste mundo, até chegar à idade da emancipação, época em que ele será manifestado em toda a sua dignidade de Filho de Deus (Gl 4, 1-7). A Carta aos Efésios, dizendo que Jesus “recapitula” em si toda a criação (Ef 1, 3-14) e afirmando que Jesus, pela sua ressurreição recebeu toda sua plenitude e que vai plenificando tudo em todos (Ef 1, 15-23). A Carta aos Hebreus, afirmando que todos os homens do passado estavam vivendo, na escuridão da fé (= ”inconsciência”, no vocabulário de Teilhard), aquilo que ira se revelar plenamente em Cristo (Hb 11). O Apocalipse, que mostra o Poder secreto e escondido de Jesus Ressuscitado realizando-se através da história tumultuada dos homens e das nações. O próprio título de “Filho do Homem” demonstra que Jesus recapitula em si toda a história da humanidade (Ef 1, 10) Os hinos da Sabedoria do Antigo Testamento (Pr 8, 22-31; Sb 7,22 – 8,1) afirmando que toda a obra da criação não é um “acaso”, mas um plano (“desígnio” Ef 1, 9-10) misterioso de Deus, culminando na salvação dos homens em Cristo.

O evolucionismo, como teoria científica, procura saber o “como” do aparecimento das espécies, quer saber do “mecanismo” da criação. A Bíblia, pelo contrário, reflete no sentido do Universo e no lugar do Homem na criação divina. Não lhe interessa o mecanismo das coisas. Isto lhe parecia curiosidade fútil ou, talvez idolatria: pretensão do Homem de controlar o Universo, no lugar de o receber de Deus. Hoje em dia, sabemos que a ciência tem a sua legitimidade e até necessidade, mas os pontos de vista são diferentes. O lugar do Homem no Universo é a sua vocação. Ele foi consagrado por Deus, como imagem e representante legítimo de Deus de Deus, continuando a obra de Deus na terra, colocando a criação inteira a serviço do amor, até a sua plenificação em Cristo ressuscitado.

Jesus Cristo, o Homem perfeito, está dizendo: “Como o meu Pai trabalhou durante seis dias para criar este mundo, eu agora trabalho, para completar a obra do meu pai até fazê-la desabrochar na nova criação” (Jo 5, 17). A criação não é um fenômeno que aconteceu bilhões de anos atrás e que nós agora investigamos. A criação é um processo dinâmico que acontece agora e no qual o Homem, representante legítimo e continuador de Deus, tem um papel importante e insubstituível para cumprir. Deus começou a criação sozinho, mas ele não pretende terminar só. O Homem tem a vocação de completar em si a obra da criação, realizando, com Deus (pelo Espírito de Deus), um mundo novo, onde não haverá mais injustiça, pobreza, choro, fome, doença, tristeza, morte, mas onde tudo será amor, alegria, paz e união. Este é o mundo que o cristão começa a edificar desde agora, com o Poder de Cristo ressuscitado, que é o Homem novo, o baluarte da nova humanidade, o protagonista do mundo novo. Jesus Cristo ressuscitado é o símbolo, a “bandeira”, o agente e o sinal vivo do mundo novo que já começou.

Adão é o ponto de partida duma humanidade ainda engatinhando, sujeita ao erro, à morte, ao pecado, mas já chamada a lutar até a vitória que só conseguirá no novo Adão, Jesus Cristo ressuscitado, que levará a Humanidade ao seu termo verdadeiro, a nova e perfeita criação, inaugurada pela Ressurreição de Jesus.



Pe. Caetano M. de Tillesse; Revista Bíblica Brasileira (RBB) 1984, N 1

sábado, 13 de novembro de 2010

Evolução da Páscoa até o tempo de Jesus

A fim de compreender Jesus, em particular no momento de sua última refeição com os discípulos, é necessário mergulhá-lo em suas raízes. Cada vez mais a pesquisa mostra o quanto Jesus se inscreve numa história e numa cultura, sem a qual fica ininteligível. O mesmo acontece com a eucaristia instituída por Cristo e praticada pelos primeiros cristãos.

• Pré-história da Páscoa

A narrativa da Páscoa pode ser lida em dois lugares da Bíblia: Ex 12,1-20 e Dt 16,1-8. Escrita muito tempo depois dos acontecimentos, com certeza durante o exílio, essa narrativa comporta diversas camadas.

Atualmente a maioria dos exegetas estão convencidos de que a festa da Páscoa não começou de modo absoluto no Êxodo, mas que, nesses momentos históricos, revesti-se de uma nova significação. Existia provavelmente, no tempo dos patriarcas, uma festa que já se chamava pesah: quando os nômades, na primavera, se preparavam para deixar seus acampamentos, em busca de outras pastagens, ofereciam às divindades um sacrifício para pedir a fecundidade para os rebanhos e, de modo mais geral, a proteção contra os poderes “exterminadores” simbolizados pelo “flagelo destruidor” (Ex 12,13). Os seres mais ameaçados eram os recém nascidos que, pela primeira vez em as vida, empreendiam uma viagem uma tanto arriscada. Então, para conjurar a violência ameaçadora, separava-se um desses animais nascidos a pouco, a fim de lhe conferir o poder sagrado, e depois o chefe da família o imolava. O sangue do animal servia de sinal de reconhecimento para o flagelo destruidor, que poupava as tendas marcadas com o sangue do animal: essa talvez, a origem da palavra “páscoa”; com efeito, em hebraico existe um verbo pesah  que significa “mancar”, portanto, “saltar” por cima das tendas e “poupar”.

Todos os anos, à volta da primavera, os hebreus repetiam o rito herdado de seus antepassados. Mesmo quando deixaram de ser nômades, em particular durante a longa estada no Egito, conservaram essa prática evocadora de sua infância e que consolidava a sua identidade. Os descendentes dos patriarcas, oprimidos, tornados escravos, ligam-se novamente às suas raízes reproduzindo o rito dos antepassados.

A história

Certo ano, pelos meados do século XIII antes de Cristo, esta festa assumiu um aspecto completamente novo que se tornará, na memória de Israel, um verdadeiro começo e apagará quase de todo os vestígios do primeiro rito.

Naquele ano a saída devia ser sem retorno, início de uma nova aventura, a caminhada para a terra prometida. Doravante é a saída do Egito que celebrarão, isto é, um acontecimento histórico, e não mais o ciclo da primavera. Da primeira festa, subsistirão muitos elementos: a época (primavera), as rubricas e detalhes (animal sacrificado, alimento, rito do sangue); o que mudará é essencialmente o sentido: a referência à entrada histórica de Deus na história de um povo. A partir de então, páscoa é o rito fundador, pelo qual, todos os anos o povo de Israel celebra a saída do Egito, a passagem da escravidão para o serviço de Deus, da morte para a vida.

• A releitura

A narrativa do Êxodo sobre a Páscoa não tem como primeira função a de ser um relato histórico. Sua função não é de contar detalhadamente o que aconteceu na famosa noite em que Israel saiu do Egito, mas como os judeus celebravam esse acontecimento: essa narrativa é uma narrativa litúrgica.

Esta particularidade litúrgica transparece na serenidade do tom, nada é deixado ao acaso: o tempo de separar o animal é preciso; sua dimensão também, assim como o número dos participantes, o que se deve comer, e como... Numa palavra, rubricas litúrgicas que refletem um tempo muito longínquo.

Em ambos os relatos da páscoa, a festa de pesah acha-se estreitamente associada à festa dos ázimos (os pães sem fermento). Na origem das duas festas não havia nenhuma relação entre elas, sendo a primeira um rito de nômades e a segunda uma prática ligada à população agrícola e sedentária, que queria garantir a proteção das divindades responsáveis pela prosperidade do solo. Com sua espantosa capacidade de assimilação crítica, Israel adotará esta festa conferindo-lhe uma nova significação. Situada aproximadamente no mesmo período que a páscoa, acabará por fundir-se com ela, a fim de se tornar, com ela, um memorial da saída do Egito.

Quatro seriam os motivos para a unificação destas duas festas:

1. Um motivo de local: ao entrar na terra prometida, Josué oferece a páscoa que dá término ao Êxodo.

2. Um motivo de data: a páscoa nômade cai no dia 14 de Nisan, quer dizer, pouco antes, durante, ou logo após os sete dias da festa sedentária dos ázimos.

3. Um motivo histórico: desde a época dos reis, a obrigação de subir ao Templo de Jerusalém para a festa dos Ázimos ofusca a Páscoa, celebrada em família. Sob Josias em 622 a.C. a redescoberta da Lei confere novo rigor à páscoa: a celebração de Josias no Templo não menciona os ázimos. Ambas as festas vão se encontrar numa mesma semana festiva.

4. Um motivo simbólico: tudo indica que a festa pascal tenha mudado o sentido da festa dos Ázimos, ali introduzindo a referência do Êxodo.

• De Josias a Jesus

Estamos habituados a ouvir dizer que a páscoa é a festa central no Antigo Testamento; ora, quando se percorre a Bíblia, constata-se que raramente é mencionada a celebração da Páscoa. Quando os hebreus atravessam o Jordão (Js 5, 10-12), recebem a circuncisão e celebram a páscoa; depois disso, há um prolongado silêncio, talvez devido ao caráter familiar e local desta festa da páscoa? Este gênero de celebração pertence à crônica familiar.

Importante guinada é devida ao rei Josias. Graças ao segundo livro dos Reis capítulos 22 e 23. Durante os trabalhos de reconstrução do Templo, os operários encontram por acaso um livro no qual se reconhece o núcleo do Deuteronômio. Josias descobre neste livro um ambicioso programa de reforma religiosa, resumido em três termos: um só Deus, um só povo, um só santuário. A centralização do culto ficará estabelecida, durante mais de 650 anos, até o fim de Jerusalém, em 70 d. C. O próprio Jesus celebrará a páscoa dentro do quadro imposto por Josias. É importante ter isso em mente se quisermos compreender o sentido da última refeição de Jesus e de sua morte.

  • Eucaristia na Bíblia, Cadernos Bíblicos, Ed. Paulus, 1985

Ir Franklins Marques Torres, NJ (Noviço do Instituto Religioso Nova Jerusalém e Graduado em Licenciatura em Química pela Univercidade Federal do Ceará)

sábado, 9 de outubro de 2010

SEXUALIDADE E AFETIVIDADE

Ø  SEXUALIDADE
Ao criar a humanidade sua imagem, Deus inscreveu no homem e na mulher a vocação e, assim, a capacidade e a responsabilidade do amor e da comunhão. A sexualidade afeta todos os aspectos da pessoa humana, em sua unidade de corpo e alma. Diz respeito particularmente à afetividade, à capacidade de amar e de procriar e, de uma maneira mais geral, à aptidão de criar vínculos de comunhão com os outros. Cabe a cada um, homem e mulher, reconhecer e aceitar sua identidade sexual (Catec. 2332-33; Gn 1, 27-28).

O Magistério da Igreja nos ensina que é Deus quem nos mantém vivos e nos santifica com todo o nosso ser, inclusive nosso corpo, e que cria uma alma unicamente para nós no momento de nossa concepção. Corpo e alma formam um todo inseparável e orgânico. Em nosso corpo, vivemos a vontade de Deus expressa em nossa identidade mais profunda. Nosso corpo jamais tem por finalidade ele mesmo, mas sempre Deus e os outros (Rm 12, 1).

O nosso corpo exprime nossa identidade sexual. Exprime nossa masculinidade ou feminilidade através dos gestos, da voz, da expressão corporal, do comportamento, das formas de relacionamento, das reações típicas de cada sexo, dos órgãos reprodutores, dos hormônios.

Para a pessoa humana, ser fecunda, crescer e multiplicar-se é fruto de um ato livre da vontade, de uma amorosa e livre adesão à vontade de Deus a cerca de seu próprio corpo e de sua participação na criação.

Vemos que a confusão de entendimento por vezes existente entre sexualidade (característica da personalidade masculina ou feminina como um todo) e exercício da genitalidade (relacionamento sexual) é profundamente limitante do conceito mais amplo do que seja sexualidade. Esta nos foi dada para a comunhão interpessoal para o “ser para o outro” como as três Pessoas da Santíssima Trindade.

Nossa sexualidade tem um papel fundamental em tudo o que somos, pensamos, fazemos e na maneira como existimos, pensamos, sentimos e agimos (é importante destacar que não tem nada a ver com as teorias de Freud). Em nossa história da salvação pessoal, em nível de autoconhecimento e auto-identificação, é imprescindível que tenhamos uma identidade sexual coerente e bem definida, pois é como homem ou mulher que nos relacionamos com a criação, com os outros, com nós mesmos e com Deus.

Ø  AFETIVIDADE
Nascemos para “ser amor”. A vida afetiva é a dimensão psíquica que dá cor, brilho e calor a todas as vivências humanas. Sem afetividade a vida mental torna-se vazia, sem sabor. A afetividade é uma experiência íntima que afeta a totalidade da pessoa e por isso mesmo, recebe o qualitativo de afetiva.
Há cinco tipos básicos de vivências afetivas:
·         Humor ou estado de ânimo
É definido como o tônus afetivo do indivíduo, o estado emocional basal e difuso no qual se encontra a pessoa em determinado momento.
·         Emoções
As emoções podem ser definidas como reações afetivas agudas, momentâneas, desencadeadas por estímulos significativos.

·         Sentimentos
Eles são estados e configurações afetivas estáveis. Os sentimentos estão geralmente associados a conteúdos intelectuais, valores, representações e, no mais das vezes, constituem fenômenos muito mais mental do que somático.
Pode-se ainda classificá-los em grupos:
o   Sentimentos na esfera da tristeza;
o   Sentimentos na esfera da alegria;
o   Sentimentos na esfera da agressividade;
o   Sentimentos relacionados à atração pelo outro;
o   Sentimentos associados ao perigo;
o   Sentimentos do tipo narcísico.

·         Afetos
Defini-se afeto como a qualidade e o tônus emocional que acompanha uma idéia ou representação mental. Os afetos acoplam-se às idéias, anexando a elas um “colorido” afetivo. Elas seriam, assim, o componente emocional de uma idéia.

·         Paixões
A paixão é um estado afetivo extremamente intenso, que domina a atividade psíquica como um todo, captando e dirigindo a atenção e o interesse do indivíduo em uma só direção, inibindo os outros interesses.

É preciso deixar claro que as vivências afetivas são AMORAIS. Isto é, em si mesmas não são nem boas nem más. O que será “bom” ou “mau” é amaneira como lidamos com eles. Algumas vezes confundimos vivência afetiva e pecado. Naturalmente, há emoções e sentimentos carregados de positividade e outros carregados de negatividade. No entanto, não significa que experimentar emoções, sentimentos seja “bom” ou “mau”, “pecado” ou “virtude. Isso vai ser determinado pelo que fazemos deles, pela forma como os utilizamos ou canalizamos.


(Sintetizado por Ir. Franklins de Jesus Palavra-Hóstia, NJ (noviço) a partir dos livros Tecendo o Fio de Ouro e Jovens em Renovação espiritualidade, afetividade e sexualidade, respectivamente de Maria Emmir Nogueira e Pe. Alírio Pedrini, SCJ).

terça-feira, 28 de setembro de 2010

A importância do ensino religioso na educação

Este tema é bastante interessante para a discussão entre professores, diretores pedagógicos de instituições de ensino e estudiosos na área da educação. Muito pelo contrário, estamos, todos nós, envolvidos na dinâmica educacional como sujeitos sociais, já que formamos um conjunto de sociabilidade, que envolve o constante processo de educação entre crianças, jovens, adultos e idosos.
É preciso entender que educação é um conceito inerente ao ser humano e a sua disposição de percepção do mundo e dos valores de outras pessoas e todas as vivências sociais e culturais que transitam nos relacionamentos interpessoais em uma sociedade. Bem diferente da idéia de educação que sempre tivemos em que o conceito foi reduzido a uma prática que repassa conteúdos de diversas disciplinas para um grupo de pessoas entre quatro paredes, sabe-se que essa estrutura se refere à condição de mercadoria da educação, que se transformaram as práticas educacionais.
Quando se vende a educação, vendem-se apostilas, livros didáticos, fardamento, material escolar, as horas de aulas dos professores e toda a estrutura física do colégio. O ensino público, de hoje, é uma conseqüência do que sobra desse sistema. Prestemos atenção na expressão: “o que sobra”. Percebemos que não ocorre a venda da educação, mas acontece a distorção dos fatos ou a dissimulação de um ensino que quer mostrar para a sociedade que é de qualidade, com a ajuda da mídia governamental, porém que esconde interesses políticos.
A educação no nosso país reflete nossa sociedade e vice-versa. Muitos não sabem que os valores de cidadania, deveres e responsabilidades sociais, respeito ao próximo, a busca da vivência da fé que esteja de acordo com a consciência do grupo, o desenvolvimento afetivo-cognitivo e emocional são formas de educação. É a educação integral, que visa o amadurecimento integrante e sempre inacabado do homem e da mulher.
Esse processo gradativo da educação é prioridade dos pais. É dentro das famílias que a importância da educação é mais esperada, pois os valores que são assimilados pelos filhos, quando pequenos, são as engrenagens principais norteadoras para o desenvolvimento equilibrado do indivíduo e da sociedade. Não é a escola a grande responsável pelo desenvolvimento educacional das crianças. E por essa afirmação, não se pode justificar sua ineficiência, frente a um contexto cultural pós-moderno massacrante, que visa o lucro desenfreado, as modas e a fugacidade dos estilos de vida. Deve haver uma complementaridade dos dois pólos, escola e família, para ajudar na construção de consciências sociais e pessoais sadias.
Nesse contexto, quero ressaltar que valores se referem ao que temos de mais pessoal, de mais precioso e que levaremos até o fim da nossa vida, para semearmos o amor e a concórdia. O ensino religioso sério e coerente proporciona os mecanismos para ajudar crianças e adolescentes a desenvolverem suas potencialidades pessoais, a convivência sadia com o próximo e principalmente, a vida interior com Deus, nosso pai e criador de todas as coisas.
Há algum tempo, o ensino religioso foi perdendo sua importância nos estabelecimentos de ensino primário e fundamental. Hoje, de acordo com o sistema de ensino, ficou facultativo o ensino nas salas de aula dessa disciplina. Os órgãos gestores administrativos e educacionais estão proliferando a idéia do estado laico, onde nas escolas e faculdades não será permitido mencionar conteúdos de determinada religião ou exibir imagens, quadros ou frases que remetem a expressão religiosa. Percebe-se, com essa atitude, o empobrecimento da cultura e do conhecimento do que é ser religioso, ou seja, da noção de sermos religados a Deus.
O ensino religioso não se limita em catequizar somente. O professor, o mestre dessa disciplina tem que ser consciente do seu papel como cristão batizado, que possui a capacidade de ensinar com a vida os valores do evangelho, as experiências próprias de fé, que enriqueçam a vida das crianças e adolescentes. É o ensino que não passa, mas marca a vida de quem apreende e percebe o afloramento de verdadeiros valores durante as fases da vida, no que se refere ao sentido do sagrado, do humano e do social.
A criatividade no aprendizado é fundamental. Falar de Deus não é o bastante, mas indicar Deus, mostrar com simplicidade, através de instrumentos e recursos pedagógicos a essência do ser humano proporciona a descoberta da verdade, dos valores eternos, que constrói homens e mulheres cientes do seu papel de cristãos e cidadãos.
Devemos começar a discutir com bastante “clareza” o que significa as expressões e sua vivência na sociedade atual: DEUS, FAMÍLIA, EDUCAÇÃO, SOCIEDADE E VALORES.

Edmilton de Almeida Lima
Postulante do Instituto Religioso Nova Jerusalém e bacharel em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Ceará.

domingo, 19 de setembro de 2010

A ORDEM DE SÃO JERÔNIMO (OSH)

A Ordem de São Jerônimo (Ordo Sancti Hieronymi, OSH) é uma ordem religiosa monacal de orientação exclusivamente contemplativa originada no século XIV, fundamentada nos escritos de são Jerônimo. Prescrevendo uma vida de solidão e silêncio, oração assídua e penitência, a OSH busca levar seus monges à união com Deus, consciente de quanto mais intensa for essa união, por sua própria doação na vida monástica, tanto mais esplêndida se faz a vida da Igreja e mais vigorosamente se fecunda seu apostolado. A vida do monge Jerônimo é pautada pelo equilíbrio entre a oração e o trabalho.

No século XIV diversos grupos de homens da Espanha, motivados pelo exemplo de vida e santidade de são Jerônimo, buscaram uma vida de maior perfeição cristã.

Deste desejo de reformas, numa época conturbada e decadente, surgiu a Ordem de São Jerônimo. Por toda a Península Ibérica surgem homens que abraçam a vida eremítica, buscando imitar são Jerônimo. Dentre eles destacaram-se Pedro Fernandez Pecha e Fernando Yañez de Figueiroa, que, após vários anos de experiência eremítica, concluíram ser melhor a vida cenobítica, com a adoção de uma regra.

Em 18 de outubro de 1373, o Papa Gregório XI lhes faz a ereção canônica, com o nome de Irmãos de São Jerônimo, outorgando-lhes a Regra de Santo Agostinho. Desde então buscaram aqueles homens estabelecer um monacato regular, o que foi alcançado em 1415, com a união da ordem, quando já possuíam vinte e cinco mosteiros.

No século XIX, a Ordem já possuía quarenta e oito mosteiros e cerca de mil monges, quando advindo da Revolução Liberal, os religiosos se viram obrigados a abandonar seus mosteiros, sendo que alguns se arruinaram, outros foram passados à outras ordens da Igreja, e outros ainda reduzidos ao uso leigo. Em 1925 foi expedido pela Santa Sé um rescrito de restauração, que se iniciou pelo mosteiro de Santa Maria del Parral, em Segóvia. Com a proclamação da restauração, o que se complicou ainda mais com a Guerra Civil Espanhola, entre 1936 e 1939. Somente após o Governo Geral de 1969 é que se pode efetivar definitivamente a restauração. Presentemente, há dois mosteiros da Ordem na Espanha: Mosteiro de Santa Maria del Parral e Mosteiro de São Jerônimo de Yuste, em Cáceres.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Jesus é o Senhor
(Serás inteiramente do Senhor teu Deus)

Dt 6, 4-5 (SHEMÁ):
O ato de fé do povo de Deus é um ato de obediência ao Senhor que o escolheu, gratuitamente por amor, dentre todos os povos para servi-Lo.
Obedecer, vem do latim ob audire que significa escutar, dar ouvidos. Nas Sagradas Escrituras, escutar não é uma atitude passiva, mas colocar em prática o que se ouve.
No versículo 4 está a maior afirmação do credo judaico: Deus é UM (ehad). Existe apenas um Deus e tudo aquilo que se coloca no lugar desse Deus é um falso deus, sendo uma idolatria.

O MALIGNO
As Sagradas Escrituras sempre deram testemunho de uma ação contrária à de Deus. Ao longo do tempo e evolução da Escritura e do pensamento do povo de Deus, fica claro que não é apenas uma “força” que atua contra Deus e os seus filhos, mas uma pessoa, que a Bíblia chama Satanás, (do hebraico satan) adversário ou delator.
O Catecismo da Igreja Católica afirma a existência desse ser pessoal que é inimigo de Deus e dos homens (Catec. 391 – 395; 2851). Negar a existência do Demônio é ir contra a Doutrina. Desde o início da história humana ele emprega-se em fazer o homem perecer (cf. Gn 3; Jo 8, 44; 1 Jo 3,8).

SUA AÇÃO
Sua ação consiste em deturpar as coisas boas e fazer passar por boas as que, na realidade, são más (cf. Is 5, 20).
É necessário renunciar a toda obra associada direta ou indiretamente ao Demônio. A Fé deve ser única e íntegra, todo sincretismo fere a pureza da fé (cf. Dt 18, 9-14; At 19, 18-20; Tg 4,4; Catec. 67b).

RENÚNCIA
É urgente a renúncia total e radical à Satanás para viver na liberdade de filhos de Deus (cf. Tg 4,7).
A renúncia a Satanás deve ser livre e consciente. É uma luta declarada contra o Mal e suas obras. A renúncia supõe declarar-se submisso inteiramente ao senhorio de Jesus. Só aquele que se coloca sob o senhorio de Cristo pode resistir ao Demônio e ser libertado do poder das trevas (cf Tg 4,7-10).
É apenas revestido do poder de Deus que se pode resistir a Satanás e declarar o senhorio de Jesus sobre si (cf. 1 Cor 12,3).

CONCLUSÃO
Nossa fé enfrenta, especialmente na atualidade, muitos obstáculos à sua vivência plena, no entanto, “Aquele que está em vós é maior do que o que está no mundo” (cf. 1 Jo 4,4).


[Adaptação feita por Ir. Franklins de Jesus Palavra-Hóstia, NJ (noviço), da apostila Seminário de Vida no Espírito Santo I da Editora RCC Brasil]

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Ir. Franklins Marques Torres, NJ (noviço)

1. AUTOR
O livro dos Atos dos Apóstolos forma uma obra única com o terceiro Evangelho. Isso pode ser atestado pela unidade literária e teológica . O autor dos Atos se propõe a fazer um resumo da “história das primeiras comunidades cristãs”. Entretanto, quando se fala de “história” não se deve entender como uma obra como conhecemos na modernidade, mas como fatos interpretados à luz da fé no Cristo. O presente trabalho se propõe expor o pensamento atual a respeito dessa obra fundamental na fé das primeiras comunidades cristãs e também na nossa vivência atual do cristianismo.
A tradição da Igreja identifica o autor deste livro, assim como o do terceiro Evangelho, como sendo Lucas, companheiro de Paulo durante e cativeiro e em algumas de suas viagens (Cl 4,14; Fm 24; 2Tm 4,11; At 16,10). Não temos algo seguro a respeito do autor. O que se tem é o que o próprio livro dos Atos dos Apóstolos e as cartas de Paulo nos oferecem, sabe-se, no entanto, que era médico (Cl 4,14). Sua data de composição não é precisa, entretanto, só se pode pensar que seja após a do terceiro Evangelho (Cf. At 1,1), ou seja, por volta do ano 80 d.C. Já por volta de 200 d.C. esta obra já era bem conhecida em toda a Igreja, tendo-o como norma de verdade e de fé. Muito cedo, aliás – ao mais tardar no século IV –, os Atos já eram lidos na liturgia eucarística no tempo pascal. Observamos que este livro influenciou e continua a influenciar muitos cristãos no desejo de volta às origens do cristianismo.
Com o esquema a seguir, podemos ver que o livro dos Aos dos Apóstolos é um complemento do Evangelho de São Lucas.


* Batismo no Espírito e fogo;
– Lc 3,16 / At 2,1-14.

* Descida do Espírito;
– Lc, 21s / At 11,16.

* Centurião romano;
– Lc 7,1-10 / At 10.

* Ressuscita uma menina (aqui ressurreição temporal);
– Lc 8,49-56 / At 9,36-42.

* Visão gloriosa, transfiguração;
– Lc 9,28-36 / At 7,55s; 9,4ss.
* Tempestade acalmada;
– Lc 8, 22-25 / At 27, 13-26.

* Subida de Jerusalém;
– Lc 9, 31-51 / At 19, 21; 21, 15.

* Processo e morte de Estevão; não podem resistir-lhe;
– Lc 21, 15 / At 6,10.

* Perante o grande conselho;
– Lc 22, 15 / At 6, 12s.

* Pede perdão pelos inimigos;
– Lc 23, 34 / At 7, 60.


2. OBJETIVO E CONTEÚDO
No seu Evangelho, Lucas preocupou-se em mostrar que Deus visitou o seu povo no Cristo Jesus, segundo as Escrituras. Em todo o Evangelho, Lucas descreveu a missão do Messias como uma grande subida para Jerusalém, a cidade do Deus Altíssimo, centro da fé judaica. Sendo então uma continuidade do seu Evangelho, Lucas, estrutura os Atos dos Apóstolos como um complemento dessa idéia de universalidade da salvação. Assim como em Jesus todas as promessas foram cumpridas (Lc 3–24), depois da Páscoa e do Pentecostes, é o tempo do testemunho universal sob o impulso do Espírito Santo (At 2). Agora, de Jerusalém, sai a mensagem de salvação a todos os povos (Is 2,3; At 1,8).
Uma preocupação dos Atos é a propagação da Palavra (At 5,42; 6,7; 8,4.25; 9,31; 12,24; 13,49; 15,36; 19,20; 28,31), que é o testemunho fiel do Cristo ressuscitado, primeiro por meio dos Doze, testemunhas visíveis da missão de Jesus (1,2). Depois outros, ocupando o primeiro plano do livro, Paulo, participam desse anúncio da Palavra. Para Lucas, a pregação da Palavra deve levar os ouvintes da mesma, à conversão, a crer no Senhor Jesus Cristo, em quem está a salvação (4,12). Nos Atos dos Apóstolos, a iniciação cristã se dá em duas etapas: batismo em nome de Jesus para o perdão dos pecados (2,38) e imposição das mãos para receber o dom do Espírito Santo (6,6; 19,1-6).
Outro tema caro a Lucas nos Atos dos Apóstolos é a Igreja. A palavra Igreja vem do grego ekklèsia, que biblicamente designava a assembléia do povo de Israel, especialmente no deserto. Com isso, os Atos dos Apóstolos mostra que a Igreja é o novo e único povo de Deus, adquirido com o seu próprio sangue (20,28); são admitidos a esse número os que aceitam Jesus como o Senhor, circuncisos e inciscusisos, sendo batizados no nome de Jesus. Portanto, rejeitar a Igreja é excluir-se da salvação dada por Jesus através da mesma (2,47; 5,14; 16,5). Para os Atos dos Apóstolos, a comunidade primitiva é o modelo para todos os que abraçam a Fé. Esse alcance rompe os limites de tempo e espaço, pois a Igreja é o “hoje” da salvação para todos os homens. Por isso o centro da teologia dos Atos é a universalidade da salvação (1,8; 2,10; 10,01; 11,19; 15,01; 17,31; 28,31).
Finalmente, o que podemos destacar ainda na teologia do livro dos Atos é a passagem da salvação do judaísmo ao cristianismo, da lei à fé (15,1.5.9.11). Entretanto não se pode entender essa passagem como um rompimento, como declarará Paulo ao governador Félix, ao contrário é a única maneira de permanecer firme à esperança de Israel (26,22). Nem por isso os judeu-cristãos não abandonaram as práticas judaicas, a lei e a circuncisão – aliás, muitos queriam impor o mesmo aos cristãos oriundos do paganismo. Paulo foi um apaixonado defensor dos pagãos neste ponto, entretanto, ele mesmo se mostrava fiel observador da Lei (16, 3; 21,26; 22,17).
Para Lucas esse Israel, beneficiário das promessas em Jesus, tem o dever de abrir-se às nações de uma maneira não entendida por eles. Sendo assim, os Atos colocam o próprio Deus intervindo nesse ponto: o episódio de Cornélio (10). Ainda assim alguns interpretaram esse fato como uma exceção. Todavia, para Lucas essa foi a solução e menciona com vigor a vitória nessa questão no Concílio de Jerusalém (15,4-29).
Abaixo está mais bem esquematizada a estrutura do livro dos Atos dos Apóstolos:

I. Introdução: o encargo do anúncio dado aos Apóstolos (1,1-26).

II. O testemunho dos Apóstolos em Jerusalém (2,1–5,42).
• Efusão do Espírito Santo e início da missão (2,1-41).
• Palavras, milagres e perseguição (3,1–4,31).
• A vida em comunidade (2,42-47; 4,32–5,42).

III. O testemunho sobre Cristo sai de Jerusalém e toma o rumo dos pagãos (6,1–15,35).
• De cristãos gregos para judeus gregos (Estevão, Filipe e os helenistas) (6,1– 8,40).
• A conversão de um grande perseguidor: Paulo (9,1-31).
• Pedro missionário é a presença da Igreja entre os pagãos (9,32–11,18).
• A missão dos helenistas em Antioquia (11,19-30).
• A perseguição de Herodes Agripa I à obra (12,1-25).
• Um passo desde Antioquia: a viagem missionária de São Paulo e Barnabé e a adesão de judeus e gentios (13,1–14,28).
• Os conflitos de tendências e o Concílio de Jerusalém (15,1-35).

IV. O caminho do testemunho sobre o Cristo até os confins da terra (15,36–28-31).
• A segunda viagem missionária de Paulo (15,36–18,22).
• A terceira viagem missionária de Paulo (18,23–21,14).
• Prisão de Paulo em Jerusalém (21,15–23,35).
• Prisão de Paulo em Cesaréia (24,1-26).
• A viagem a Roma (27,1–28,16).
• A pregação de Paulo em Roma (28,17-31).

Tabela 2.1.
1 – 12:
A Igreja de Jerusalém e as primeiras missões – parte petrina.
13 – 15:
Antioquia Paulo e Barnabé Concílio de Jerusalém Tiago e Pedro.
16 – 28:
De Antioquia a Roma – parte paulina.

3. QUESTIONAMENTO
Após essa reflexão e discussão a respeito desse precioso livro da Sagrada Escritura, ainda nos surgem questionamentos. Este trabalho não se propõe a solucionar problemas, nem tão pouco dar respostas definitivas. Gostaria aqui de dar inicio a uma pequena discussão: Seria Atos dos Apóstolos o nome mais adequado deste livro?
Se observarmos melhor a estrutura da obra de Lucas percebemos uma personagem que se destaca entre todas: Paulo. Este Apóstolo aparece primeiramente no capítulo sete, no martírio de Estevão (7,58), daí então praticamente toda a narrativa gira em torno de Paulo – primeiramente Saulo. Algo que também notamos claramente é a importância dada à sua conversão, que é narrada três vezes (9,1-19a; 22,5-16; 26,9-18). Para Lucas ainda o Apóstolo Paulo é o modelo de Igreja missionária, falando de três viagens para anunciar a palavra de salvação (13–14; 15,36–18,22; 18,23–21,17 respectivamente). Outra consideração é a respeito da relação do autor com Paulo. Como vimos Lucas era companheiro do Apóstolo, tendo bastante base pessoal para escrever sobre ele com paixão de discípulo fiel ao mestre. Podemos observar traços claros da teologia e termos paulinos na obra dos Atos dos Apóstolos.
Tendo exposto estas particularidades deste livro, propomos ainda uma leve mudança no título desta obra. Deixamos claro que é uma mera sugestão, sem pretensão nenhuma, apenas uma opinião pessoal baseada nas observações feitas acima. Um título que poderíamos dar a este livro seria: “Os Atos de Paulo”.

4. CONCLUSÃO
Ao estudarmos esta obra-prima da literatura do primeiro século, percebemos a grade influência da mesma na vida das primeiras comunidades cristãs. Especialmente a figura do grande missionário, Paulo de Tarso. Também não podemos deixar de destacar com que grande força este livro impulsiona tantas comunidades e movimentos na Igreja de hoje a buscar o ideal da Igreja primitiva. Cabe a Igreja de hoje o fiel seguimento da Palavra de Deus, sob o impulso do Espírito Santo, “até as extremidades da Terra”, para que todos, sem exceção, alcancem a salvação em Cristo, cumprimento da Promessa do Pai.

5. BIBLIOGRAFIA
• BÍBLIA SAGRADA Tradução da CNBB; 6ª Edição; Edições CNBB, Brasília-DF; Editora Canção Nova, São Paulo-SP, 2007.
• BÍBLIA DE JERUSALÉM; Editora Paulus, São Paulo-SP, 2004.
A BÍBLIA TEB; Edições Loyola, São Paulo-SP, 1994.

sábado, 21 de agosto de 2010

Empecilhos para a cura

O QUE IMPEDE A GRAÇA DE DEUS ACONTECER?

O que seria uma barreira para Deus não agir? Então é isso que nós queremos hoje refletir nessa palestra: Os preconceitos, os empecilhos, as barreiras contra a cura.
Antes, é importante que se fale de pontos que geram confusão no entendimento da ação de Deus entre nós.

1. Deus não nos cura porque não quer nos salvar
Quando nós dizemos que Deus não quer nos salvar estamos enganados. Isso é uma barreia para a cura acontecer (Is 53, 4; 1 Pd 2, 24s).

2. O pecado é para a glória de Deus
A nossa luta contra o pecado, é ela que vai expressar a glória de Deus e não o nosso pecado.

3. Ficar acomodado com o pecado
Nós não devemos ficar acomodados com o nosso pecado, nem com a nossa doença, ou seja, se eu adoeço não posso ficar acomodado com a minha doença, tenho que procurar a cura. Da mesma forma também não posso descuidar da minha saúde.

4. Achar que os prodígios são coisas do tempo apostólico
A nossa Igreja é carismática. Só podemos dizer que as curas e os milagres são do passado, no dia em que a Igreja não existir mais. O Espírito Santo age aqui e agora.



ATITUDE DO MINISTRO DE CURA E LIBERTAÇÃO.

Da mesma forma que não devemos tolerar o pecado, também não devemos tolerar as doenças. Aceitar a doença é uma coisa, querer a doença é outra coisa. A doença é um mal. Deus não quer o mal do ser humano. Ao visitar um doente, ou quando também nós estivermos doentes, não devemos logo pedir a cura, mas questionar como permanecer fiel mesmo na doença. E a partir disso, orar. O fato de não pedir logo a cura não é que você não queira, mas você deve demonstrar primeiro um ato de fé, porque sem fé não se pode ser curado.
Existe uma relação estreita entre cura e salvação. A cura é um sinal de que Deus salva o ser humano (Cf. Is 53, 4). Para isso analisemos estes dois textos bíblicos:

 “Porque, se confessares com tua boca que Jesus é Senhor e creres em teu coração que Deus o ressuscitou dentre os mortos, será salvo” (Rm 19, 9);

 “Em todos os lugares onde [Jesus] entrava, nos povoados, nas cidades ou nos campos, colocavam os doentes nas praças, rogando, que lhes permitisse ao menos tocar na orla do seu manto. E todos os que o tocavam eram salvos” (Mc 6, 56).

OBS.: Nos dois trechos, embora falando de realidades totalmente diferentes, – a primeira da salvação eterna, a segunda de uma cura física – as palavras gregas utilizadas são derivadas do mesmo verbo(salvar).

ATITUDES NEGATIVAS RELATIVAS À ORAÇÃO POR CURA E LIBERTAÇÃO


 Confundir oração de cura e libertação com curandeirismo;

 Desconfiar da graça de Deus;

 Não se preparar pela vigilância e a oração;

 Achar que a doença é uma cruz dada por Deus;

 Achar que por ter fé não precisa ser curado;

 Pensar que só quem pode rezar é quem é santo;

 Dizer que não precisa rezar porque existe a ciência;

 Recusar recorrer à medicina;

 Viver em um ambiente averso a Deus.



MANDAMENTOS DA CURA


1. Crer que Deus quer me curar.

2. Confiar o amor de Jesus.

3. Entregar-se, abandonar-se à vontade Deus inteiramente.

4. Receber os sacramentos.

5. Orar freqüentemente uns pelos outros.

6. Não ter medo de impor as mãos.

7. Pedir perdão e perdoar também.

8. Orar pelos que o ofenderam.

9. Pedir a cura ao Pai em nome de Jesus ou diretamente a Jesus.

10. Pedir a intercessão poderosa da Virgem Maria, dos anjos e dos santos.

11. Crer a Palavra de Deus, independentemente do que pareça estar acontecendo.

12. Devemos louvar de agradecer freqüentemente para que a cura aconteça.

13. Devemos também nos apropriar das curas recebidas.

domingo, 8 de agosto de 2010

Os Escritos Paulinos

1. PREFÁCIO

Acredito que nada melhor para escrever sobre a personalidade e a convicção desse grande apóstolo de Jesus, como uma autodescrição:

[Eu Saulo/Paulo] fui circuncidado no oitavo dia, sou da raça de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu filho de hebreus; quanto à observância da Lei, fariseu; no tocante ao zelo, perseguidor da igreja; quanto à justiça que vem da Lei, irrepreensível. Mas essas coisas, que eram ganho para mim, considerei-as prejuízo por causa de Cristo. Mas que isso, julgo que tudo é prejuízo diante deste bem supremo que é o conhecimento do Cristo Jesus, meu Senhor. Por causa dele, perdi tudo e considero tudo como lixo, a fim de ganhar Cristo e ser encontrado unido a ele. (Fl 3, 5-9a)

Com esse texto da carta aos filipenses, percebemos a sua consciência de que Deus o escolheu, não obstante às suas falhas, não acolheu esse chamado como privilégio, mas como grande responsabilidade com a qual não brincou ou perdeu tempo.
Graças a essa convicção da seriedade do seu apostolado, realizou grandes viagens, fundou comunidades, escreveu muitas cartas, deixando uma quantidade relativamente maior de material a seu respeito do que os outros apóstolos.

2. HISTORIOGRAFIA DO APÓSTOLO

Saulo nasceu em Tarso da Cilícia (At 9,11; 21,39; 22,3), entre os anos 5 e 10 da nossa era (Fm 9). Desde sua infância, foi instruído no farisaísmo, em Jerusalém, por Gamaliel, um grande rabi de sua época (At 22,3; At 26,5). Saulo é da tribo de Benjamim, sendo ainda, de cidadania romana (At 16,37; Fl 3,5).
Inicialmente, foi implacável perseguidor da Igreja nascente (At 22,4). Por volta do ano 35 dC, um grande acontecimento no caminho para Damasco (At 9,1-19a; 22,5-16; 26,12-18) transforma totalmente o rumo da vida deste homem de Deus. Antes, convicto de estar fazendo a vontade de Deus, mais ainda depois do encontro com o Cristo ressuscitado, tornou-se Arauto do mesmo Caminho que anteriormente suprimira com violência. Agora a violência era interior, de anunciar o Cristo do qual toma o título de Apóstolo – mesmo sendo um título dado quase que exclusivamente aos Doze –confirmado pelas palavras do próprio Jesus (At 22,21).
Na sua primeira missão apostólica ocorre no ano 40 – depois de ter subido à Jerusalém para apresentar-se a Pedro, no ano 37 – parte com Barnabé para Chipre, Panfília, Pisídia e Licaônia (At 13–14), quando passou dedicar-se exclusivamente aos pagãos e também adotou seu nome romano: Paulo. Surge, de seu apostolado entre os pagãos, um conflito de Paulo e seus companheiros, com os cristãos de origem judaica, conseqüentemente, com os Doze. Por esse motivo, aproximadamente, entre 48/49, em Jerusalém, é convocado o primeiro Concílio da Igreja, para tratar da obrigatoriedade, ou não, dos recém convertidos ao cristianismo, de origem pagã, de cumprirem a Lei de Moisés e fazerem-se circuncidados.
No ano seguinte (50-52), Paulo parte em sua segunda viagem (At 15,36–18,22) percorrendo e confirmando a fé das comunidades na Síria e a Cilícia (At 15,41). Depois prosseguiu por Derbe, Listra, – onde conheceu Timótio – Frígia, Galácia, Mísia, Trôade, Samotrácia, Neápolis, Filipos e outras cidades e regiões. Nessa mesma viagem, na cidade de Filipos, foi seu primeiro cárcere. A sua terceira viagem (At 18,23–21,17) foi entre os anos 53-58. Na festa de Pentecostes do ano 58, Paulo é preso no Templo, em Jerusalém, e depois transferido para Cesaréia (At 21,27–23,22), até que no outono de 60, o Procurador Festo o envia para Roma, permanecendo ali ainda dois anos, terminando nosso conhecimento bíblico da vida desse Apóstolo. O que temos depois disso são tradições a partir de suas cartas, das quais se pode conjecturar que foi à Espanha (1Cor 15, 24-25). Tais tradições nos dão a data do seu martírio no ano 64 ou 67.

3. ESCRITOS DO APÓSTOLO

As Epístolas paulinas são um verdadeiro legado deste Apóstolo de alma apaixonada e apaixonante. Não são tratados de teologia, mas respostas a situações. Entretanto não se deve diminuir seu valor de transmissão do “evangelho” de Paulo. Nelas podemos enxergar a entrega incondicional de um homem a Deus, que sabe ser seu único e verdadeiro bem (Fl 3,7). As suas cartas demonstram seus sentimentos a cada comunidade ou colaborador que escreve. Seja uma exortação dura (Gálatas), profundo agradecimento (Filipenses), grande decepção (Coríntios). A mensagem principal de sua pregação é o querigma, consistindo no Cristo morto e ressuscitado conforme as Escrituras (Gl 3,1). É o apóstolo dos gentios (Gl 1,16), na sua linha universalista.
Como dito anteriormente, seus escritos ocupam a maioria – entre próprios ou da “escola paulina” – do cânon do Novo Testamento, exatamente sete. Percebemos daí a importância desse Apóstolo para a consolidação da Doutrina da Igreja Primitiva.
No quadro abaixo, fica bem visível a diferença da ordem das cartas paulinas, entre o cânon da Bíblia e composição.

SEQUÊNCIA DO CÂNON

Epístola aos Romanos

I Epístola aos Coríntios

II Epístola aos Coríntios

Epístola aos Gálatas

Epístola aos Efésios

Epístola aos Filipenses

Epístola aos Colossenses

I Epístola aos Tessalonicenses

II Epístola aos Tessalonicenses

I Epístolas a Timóteo

II Epístola a Timóteo

Epístola a Tito

Epístola a Filêmon

SEQUÊNCIA CRONOLÓGICA

I Epístola aos Tessalonicenses

II Epístola aos Tessalonicenses

Epístola aos Filipenses

Epístola a Filêmon

I Epístola aos Coríntios

Epístola aos Gálatas

II Epístola aos Coríntios

Epístola aos Romanos

Epístola aos Colossenses

Epístola aos Efésios

I Epístola a Timóteo

II Epístola a Timóteo

Epístola a Tito


As cartas de Paulo dividem-se em autênticas e inautênticas, sendo que, dentro das autênticas, existem ainda as do cativeiro. Já as inautênticas, podem ser divididas em: pastorais e não-pastorais. Veja na tabela a seguir:

AUTÊNTICAS

CATIVEIRO                                  FORA DO CATIVEIRO

Fl                                                                                  

Fm                                                                           1 Ts

                                                                              Gl

                                                               1ª parte de Cor

                                                              2ª parte de Cor

                                                                               Rm

 
 
INAUTÊNTICAS

PASTORAIS                                          NÃO-PASTORAIS

1 Tm                                                                 Ef 

2 Tm                                                                 Cl  
´    Tt                                                                2 Ts 

As Epístolas chamadas autênticas são aquelas que entre os estudiosos não há dúvida de haverem sido escritas pelo próprio Paulo, ou ainda redigidas por um colaborador, sendo ditada pelo Apóstolo.
Em contraposição temos as inautênticas, assim chamada por sérias críticas relacionadas ao pensamento teológico, estilo, situação, por vezes, contradizentes às demais Epístolas paulinas, ou claras cópias.

Obs.: Iremos fazer as considerações relativas a cada carta seguindo a ordem cronológica e não a do cânon da Sagrada Escritura.


Autênticas

Primeira Epístola aos Tessalonicenses
A carta mais antiga de São Paulo é também o mais antigo escrito do Novo Testamento, estamos falando da Primeira Epístola aos Tessalonicenses. Composta no verão do ano 50 dC, na sua primeira estadia na cidade de Corinto. O impulso para escrever esta carta fôra as notícias trazidas por Timóteo, enviado por Paulo de Atenas (At 17, 1-9). A carta contém orientações pastorais para a consolidação da fé na recém nascida comunidade. O conteúdo principal da carta é: Exortação à vida santa; A esperança dos cristãos; Instruções sobre a parusia de Cristo; Instruções para a vida em comunidade.

Segunda Epístola aos Tessalonicenses
Foi redigida, seguindo estritamente o modelo da Primeira, até mesmo em locuções menos importantes. Sendo a situação epistolar a mesma, se a mesma fosse autêntica, devia ter sido escrito imediatamente após a Primeira, por volta do ano 50 dC. Alguns conjecturam que o próprio Apóstolo a escreveu a fim de corrigir certos mal-entendidos relacionados à parusia de Cristo, exposta na Primeira epístola

Epístola aos Filipenses (Veja mais a frente)

Epístola a Filêmon
Como já anteriormente foi apontada, esta Epístola, foi escrita enquanto Paulo estava em cativeiro na cidade de Éfeso (54/55 dC). Ainda que os Atos dos Apóstolos, nem as demais Epístolas próprias não mencionem explicitamente o lugar da detenção. A carta trata de um assunto muito pessoal. Nesta época a igreja de Colossas reunia-se em casa de Filêmon. Este tinha um escravo chamado Onésimo, que fugiu para dar assistência a Paulo no cárcere. Tendo batizado Onésimo, Paulo o envia de volta portando uma carta a seu senhor, agora como irmão na fé, recomendando que o recebesse sem castigo algum.

Primeira e Segunda Epístolas aos Coríntios
Há vários problemas a respeito da composição destas duas Epístolas. A respeito das Epístolas, temos certeza que, pelo menos, há cinco cartas “autênticas”. Durante a composição das duas Epístolas, ficaram misturadas:
I. “Pré-canônica” (Cf. 1Cor 5,9-13);
II. 1Cor, juntamente com uma carta, quando Paulo estava em Éfeso (Cf. 1Cor 1,11; 7,1);
III. A “carta em lágrimas” (Cf. 2Cor 2,3.4.9;7,8.12);
IV. 2Cor, em resposta às calúnias recebidas;
V. As cartas de solidariedade com os pobres de Jerusalém (Cf. 2Cor 8–9).
Os temas específicos da Primeira Epístola podem ser listados da seguinte maneira: divisões na comunidade, abusos gritantes, a vida do cristão no mundo, a vida a comunidade e a ressurreição de Cristo e a nossa.
Os da Segunda Epístola são: Desavenças e reconciliação com os coríntios; Sobre a coleta; Autodefesa do Apóstolo.

Epístola aos Gálatas
Esta Epístola foi escrita durante a atividade de Paulo em Éfeso e arredores, aproximadamente no ano 54 dC. O principal motivo desta carta foi porque pouco tempo depois da última estada de Paulo entre os gálatas, deram ouvidos a cristãos oriundos do judaísmo, que os quis impor a Lei de Moisés, a começar pela circuncisão. Na visão do Apóstolo, isso quedaria em um retrocesso na “fé agindo pela caridade” (Gl 5,6). Podemos extrair quatro temas principais desta Epístola: O único evangelho; A liberdade cristã; A fé agindo pelo amor; Os frutos do Espírito.

Epístola aos Romanos
Datada do ano 57/58 dC, durante sua terceira viagem missionária, quando ficou três meses na Grécia, mais especificamente na cidade de Corinto, antes de voltar para Jerusalém. Diferentemente das outras obras do Apóstolo, a Epístola aos Romanos não foi motivada por circunstâncias ou questionamentos das comunidades, mas é uma verdadeira “tese” teológico-pastoral. Alguns estudiosos consideram esta Epístola como um verdadeiro “Evangelho de Paulo”. O corpo temático específico da Epístola segue a seguinte seqüência: A fé em Jesus, o Cristo; A graça e a gratuidade; A justiça salvadora e libertadora; A universalidade da salvação.


Inautênticas


Epístola aos Colossenses
Esta Epístola deve se situar certo tempo depois das grandes cartas, provavelmente durante o cárcere em Cesaréia ou Roma (60 dC). Ela foi redigida por um colaborador de Paulo, que a assinou de próprio punho (4,18). Esta mesma Epístola é destinada também aos cristãos de Laodicéia, servindo assim depois como modelo para a Epístola aos Efésios. O intento provável da carta é proteger os fiéis das pessoas que ameaçam a simplicidade do Evangelho, com especulações cósmicas e prescrições ascéticas, bem ao estilo helenístico, misturado a elementos da tradição judaica. Temas específicos: A novidade em Cristo; Cristo, tudo em todos; A solidariedade intereclesial; Amor e justiça em casa.

Epístola aos Efésios
A Epístola aos Efésios é uma carta circular com destinação a comunidade da Ásia Menor, uma província romana que tinha como capital Éfeso. Entretanto, de carta ela só possui a forma, trata-se antes de uma verdadeira homilia. O autor inspirou-se na Epístola aos Colossenses, transformando-a em uma homilia, a fim de atingir um público mais amplo. A data provável de sua composição é em torno do ano 100 dC. Da mesma forma que a Epístola aos Colossenses, ela divide-se em duas grandes partes, sendo a primeira doutrinal e a segunda exortativa. Temas específicos: O Cristo glorioso, cósmico e eclesial; O “mistério de Cristo” e a salvação universal; Recapitular tudo em Cristo; Igreja e família; Ética para vivência no mundo em vez de “parusia já”.

Epístolas a Timóteo
Juntamente com a Epístola a Tito (a Epístola a Filêmon, por ser para uma pessoa em particular. Entretanto, foi escrita muito anteriormente), as Epístolas a Timóteo fazem parte do conjunto das chamadas “cartas pastorais”. Diferentemente das outras Epístolas, direcionadas a determinadas comunidades, estas são dirigidas a pessoas em particular, tratando de funções instituídas (bispos, presbíteros, diáconos, viúvas). Esta Epístola data, aproximadamente, dos primeiros decênios do século II dC. Temas específicos: Guardar o que foi confiado; A organização pastoral; Insistir oportuna e inoportunamente; A sã doutrina; Firmeza na Sagrada Escritura.

Epístola a Tito
Esta deve ser situada próxima à Primeira Epístola a Timóteo, pois têm muito em comum. Ela é a terceira das “cartas pastorais”. Tito era companheiro de Paulo na reunião com os Apóstolos em Jerusalém, sendo ele mesmo cristão oriundo do paganismo (Gl 2,1-3). A Epístola, semelhantemente a 1 Tm, contém traços mais pessoais em relação à função de Tito na cidade de Creta, onde foi bispo até sua morte (1,5). Esta Epístola data aproximadamente dos primeiros decênios do segundo século da era cristã. Temas específicos: A fé comum; A salvação; A manifestação da graça e do amor.

4. EPÍSTOLA ESPECÍFICA

Epístola aos Filipenses
Como anteriormente apontado, esta Epístola pertence ao conjunto de Epístolas chamadas “cartas do cativeiro”. Ela pressupõe um intercâmbio intenso de notícias e, portanto, uma relativa proximidade entre o lugar da prisão de Paulo e a residência dos destinatários, indicando dessa maneira sê-lo Éfeso, e não Roma ou Cesaréia. Ainda que o livro dos Atos dos Apóstolos não faça menção alguma a um cárcere de Paulo em Éfeso e as suas próprias Epístolas não falem explicitamente o lugar, contudo em 1 Cor 15,32 e 2 Cor 1,8s falam de uma perseguição e de um perigo mortal em Éfeso. O ano provável da composição da carta é 54/55 dC.
A autenticidade da Epístola foi contestada por alguns que enxergaram vários bilhetes inicialmente independentes, ou pelo menos dois (1,1–3,1 + 4,10-23 e 3,2–4,9). No entanto, a transição repentina de 3,1 para 3,2, pode ser explicada levando em conta a retomada de ditado ou de pensamento.
A Epístola aos Filipenses é dirigida aos fiéis da cidade de Filipos, a primeira comunidade fundada na Europa por Paulo, batizando pessoalmente muitos deles, enquanto estava em sua segunda viagem missionária, no ano 50 dC. Alguns dizem que esta é a comunidade favorita de Paulo. Na carta ele responde à curiosidade dos fiéis da comunidade a respeito do seu estado depois do que sofreu em Éfeso. O Apóstolo também agradece à ajuda cedida por eles, entregue por intermédio de Epafrodito. Aliás, esta é a única igreja que, tendo sido fundada por ele, aceitou mais de uma vez (4,15-16), ajuda material, seja ao partir da Macedônia ou no cativeiro.
Paulo também aproveita a carta para censurar falsos mestres, provavelmente cristãos vindos do judaísmo, que se infiltraram na comunidade eclesial. Sendo ele mesmo oriundo do judaísmo, considera tudo perda em comparação com a graça da fé, deixando-se dominar por Cristo (3,5-9). O Apóstolo começa com o tema da comunhão, o qual está do início ao fim da Epístola. Ele tem plena convicção que seu cativeiro servirá de instrumento para a ação de Deus, para a propagação do Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo. Convida ainda os fiéis a perseverar no combate, pois a força vem de Deus (4,13). A Unidade deve ser mantida com toda a humildade a exemplo de Jesus (2,2-3.5-8).
O seguinte quadro ajuda a ter uma visão mais ampla do conteúdo da Epístola.


Tabela 4.1.
1, 1-11: Saudação e ação de graças
1, 12-26:
As dificuldades de Paulo 1, 27–2,18:
Exortação à comunidade 2, 19–3,1:
Projetos relacionados a Timóteo e Epafrodito 3,2–4,1:
Advertência contra os judaizantes 4, 2-20:
Exortações e agradecimentos
4, 21-23: Final

Temas mais caros à Epístola: Opção radical e identificação com Cristo; O; despojamento de Cristo; Alegria.


5. BIBLIOGRAFIA

• BÍBLIA SAGRADA Tradução da CNBB; 6ª Edição; Edições CNBB, Brasília-DF; Editora Canção Nova, São Paulo-SP, 2007.
• BÍBLIA DE JERUSALÉM; Editora Paulus, São Paulo-SP, 2004.
• A BÍBLIA TEB; Edições Loyola, São Paulo-SP; Paulinas, São Paulo-SP, 1996.
• BORNKAMM, G.; Paulo vida e obra; Tradução de Bertilo Brod; Editora Vozes, Petrópolis-RJ, 1992.